21 de setembro de 2024
Energia

A corrida pelo ‘Hidrogênio Dourado’ — Será a nova solução ou um risco desconhecido?

Na busca pela descarbonização global, o hidrogênio tem ganhado destaque. “Ao queimá-lo, ele gera apenas água, sem impacto ambiental”, explica Alberto Vitale Brovarone, professor no Departamento de Ciências Biológicas, Geológicas e Ambientais da Universidade de Bolonha, na Itália. Os defensores do hidrogênio o veem como uma solução para limpar setores como transporte, agricultura e a indústria pesada.

Foto: Jacopo Pasotti

No entanto, os benefícios ambientais do hidrogênio só se concretizam se sua produção não emitir carbono. É por isso que o interesse pelo “hidrogênio dourado”, que ocorre naturalmente no subsolo, está crescendo. Esse tipo de hidrogênio é formado por reações químicas entre água e rochas ricas em ferro ou por radiólise, processo no qual a radiação divide moléculas de água em hidrogênio e oxigênio.

“Diferente de outros tipos de hidrogênio, o hidrogênio dourado não requer energia para ser produzido”, afirma Brovarone, prevendo uma futura corrida pela sua extração. No entanto, o que sabemos sobre sua formação natural ainda é limitado, o que faz com que o mundo da pesquisa esteja em uma corrida contra o tempo para entender mais sobre ele antes que ocorra uma extração em massa precipitada e sem planejamento.

Brovarone e sua equipe acreditaram que a Groenlândia poderia fornecer respostas para essas questões. Em uma missão especial, parte do programa ERC CoG DeepSeep, financiado pela União Europeia, eles se aventuraram ao território Ártico em busca de mais informações.

A equipe, composta por cientistas da Universidade de Bolonha, do Instituto de Geociências e Georrecursos do Centro Nacional de Pesquisa da Itália e da Universidade de Copenhague, passou 10 dias coletando amostras de rochas com quase 2 bilhões de anos. Apesar de vários desafios, como icebergs inesperados e até a presença de um urso que os forçou a se abrigar em uma escola, a missão rendeu amostras ricas em H2 para estudo.

O hidrogênio dourado tem surgido em locais inesperados ao redor do mundo, levantando questões sobre como ele se acumula e seu papel nos ecossistemas subterrâneos. Já existem preocupações: se o hidrogênio reage com substratos geológicos ou é processado por certos microrganismos, ele pode gerar metano ou sulfeto de hidrogênio, o que pode criar novos problemas ambientais.

Brovarone alerta que, por ainda não entendermos totalmente o que regula a presença de H2 nas rochas há milhões de anos, é arriscado iniciar sua extração massiva sem mais estudos. A mesma cautela se aplica ao armazenamento de hidrogênio produzido artificialmente no subsolo.

“Ciência e indústria têm ritmos diferentes”, diz ele. “Precisamos de tempo para entender como o hidrogênio se comporta na natureza, porque muitas dinâmicas só aparecem depois de anos. A indústria quer respostas rápidas, mas a ciência precisa de tempo e fundos, que, no caso do hidrogênio, ainda são escassos.”

Países como França, Austrália e Estados Unidos já estão investindo no hidrogênio dourado. Graças à expedição da Universidade de Bolonha, a Itália começa a fazer parte do seleto grupo que busca entender mais sobre esse elemento promissor.

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