21 de setembro de 2024
Ciência

Cientistas planejam fertilizar o oceano com ferro para combater o aquecimento global, apesar de controvérsias

Uma nova tentativa de usar fertilização com ferro para retirar dióxido de carbono da atmosfera está em andamento, revivendo uma técnica geoengenharia que esteve em desuso por mais de uma década devido a críticas públicas.

Imagem de 8 de fevereiro de 2016 revelando a complexa distribuição do fitoplâncton em um dos sistemas de ressurgência da fronteira leste da Terra – a Corrente da Califórnia. NASA/Goddard/Suomin-NPP/VIIRS

Em 9 de setembro, um grupo de 23 cientistas do consórcio sem fins lucrativos Exploring Ocean Iron Solutions (ExOIS) anunciou um programa para estudar os efeitos da adição de ferro no Oceano Pacífico, na esperança de estimular o crescimento de fitoplâncton. Esse processo ajudaria a absorver CO2 da atmosfera, transportando-o para o fundo do oceano. Os testes poderiam começar em 2026, abrangendo uma área de até 10.000 quilômetros quadrados, segundo Ken Buesseler, pesquisador da Instituição Oceanográfica de Woods Hole e membro do consórcio.

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) destacou a necessidade urgente de remover bilhões de toneladas de CO2 da atmosfera para limitar o aquecimento global. Buesseler vê a fertilização oceânica como uma peça importante nesse quebra-cabeça, considerando que os oceanos já contêm muito mais carbono que plantas e solos da Terra.

Tecnologia polêmica

A técnica envolve espalhar sulfato de ferro nas águas, o que desencadeia um grande florescimento de fitoplâncton, organismos que consomem CO2 durante a fotossíntese. Quando o fitoplâncton morre ou é consumido, parte desse carbono afunda como “neve marinha”, armazenando o CO2 por longos períodos.

Embora essa técnica tenha sido testada em doze experimentos entre as décadas de 1990 e 2000, o entusiasmo científico foi rapidamente reprimido. Em 2012, um empresário americano despejou 100 toneladas de ferro nas águas canadenses sem supervisão adequada, gerando reações negativas ao que muitos viam como uma interferência arriscada nos sistemas naturais da Terra.

O ExOIS agora promete monitoramento rigoroso, com o uso de rastreadores não reativos para medir a disseminação do ferro e imagens de satélite para observar os efeitos do fitoplâncton. O consórcio também quer garantir que o público esteja mais envolvido e que os possíveis impactos ambientais sejam considerados desde o início.

Desafios à frente

Entretanto, a fertilização com ferro levanta preocupações. Em um experimento de 2009, fitoplâncton tóxico prosperou, e em outro de 2006, apenas uma fração do carbono chegou às profundezas do oceano. Especialistas alertam sobre a criação de “zonas mortas”, onde o excesso de fitoplâncton consome todo o oxigênio da água. Além disso, há o risco de “roubo de nutrientes”, quando fitoplâncton em áreas fertilizadas esgota recursos que outros organismos marinhos dependem.

Apesar dos desafios, Buesseler defende que sacrifícios podem ser necessários para evitar danos maiores ao planeta. Ele admite que há incertezas, mas argumenta que não fazer nada pode ser ainda mais prejudicial diante das mudanças climáticas iminentes.

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